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I need to go to New York.

Levantei da cama e olhei para minha mesa de cabeceira. Chorei ao ver todos aqueles presentes, todas aquelas fotos. Seria difícil partir. Abracei meu urso de pelúcia e fui para a janela. Estava chovendo forte, mas do mesmo jeito a paisagem continuava linda. Engraçado, sempre detestei esse lugar, e agora, quando estou prestes a ir embora, comecei a ver o quanto ele era especial pra mim. Abri o baú no chão. Cheio de cartas, brinquedos de infância, coleções de coisas antigas. Eu abraçava cada uma das minhas coisas, como se nunca mais fosse vê-las. Nunca tive muitos amigos, mas estes poucos me fariam uma imensa falta. Principalmente você. Era uma dor no coração que eu nunca havia sentido antes.

Saí do quarto. Descendo as escadas, senti um aroma bom vindo da cozinha. Entrei e vi minha mãe preparando torradas e chá gelado para mim. Ela me olhou com aquela cara de ''Tudo vai ficar bem, não se preocupe.'' Levei o café da manhã para o meu quarto. Ela cozinhava muito bem. Eu olhava para as paredes mal pintadas do meu quarto, como se fossem feitas com fios de ouro. Eu deitava em meu carpete velho, como se fosse a seda mais macia desse mundo. Aquela seria a minha despedida. Tomei um banho quente, tirei o pijama, coloquei um jeans e o meu cardigã rosa. Ele tinha o seu cheiro. Fui para a nossa casa na árvore. A pé, embaixo de chuva, pisando nas poças. Isso não me importava agora.

Assim que entrei, minha melhor amiga me abraçou forte. Eu sentiria muita falta daquela magricela estressada, a qual eu conhecia desde o maternal. Todas as brigas, todas as risadas, todos os momentos juntos. Eu nunca iria esquecê-la, nunca mesmo. E lá estava você. É, você. De cabeça baixa, chutando a bola na parede inúmeras vezes. Olhou pra mim, e quase chorando, me abraçou e sussurrou em meu ouvido. ''Eu te amo, minha pequena.'' Eu apertava as mangas de sua camisa, eu queria você ao meu lado. Eu estava chorando como nunca havia chorado antes.

Aquele seria meu último dia na cidade. Iria embora para Nova York, mas não seriam apenas férias dessa vez. Eu iria me mudar para outro país, eu iria deixar tudo para trás e nunca mais voltar. Eles me levaram até em casa, e pedi para minha melhor amiga subir comigo. Arrumamos as minhas coisas, em meio a ''Lembra daquele dia?'' ''Olha, aquela foto!'' ''Olha só o que eu achei...'' Fechei a minha mala, e descemos. Larguei as no chão. Você veio até a mim, e me entregou uma caixa, toda decorada. ''Abra.'' Uma pulseira de diamantes. Um pingente para casa coisa que cada um de nós gostávamos. Algodão doce, laços, videogames, dados, lobos. ''Você não irá nos esquecer tão fácil.'' Era a melhor coisa que eu poderia imaginar em toda a minha vida. Eu chorava, enquanto todos nós nos abraçávamos. O caminhão de mudança chegou. Depois de um tempo, a casa já estava sem nenhuma caixa. Coloquei as malas no carro e vocês me levaram até o aeroporto.

Esse foi o momento mais difícil de toda a minha vida. A despedida daqueles que me acolheram quando nem mesmo a minha família ligava pra mim. Daqueles insuportáveis que eu amava tanto. Daqueles idiotas, bestas, estranhos. Dos meus melhores amigos. Você me abraçou uma última vez. Sussurrou em meus ouvidos. ''Você é minha pra sempre.'', e me deu um anel. Era lindo. Nos beijamos, e eu corri até a pista. Subi as escadas e entrei no avião chorando. Pessoas me olhavam, mas eu nem me importava. Sentei em meu lugar. Olhei para a janela mais uma vez, e lá estavam vocês, no observatório, acenando para mim. ''Eu amo vocês'', sussurrei, tocando a janela fria, com a chuva do lado de fora. Encostei a cabeça em minhas mãos, chorando. Fechei os olhos, com a esperança de que aquele dia acabasse logo, e de que aquelas lembranças nunca fossem perdidas.

-Carol Rodrigues.

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